quarta-feira, 28 de abril de 2010

um dia, ao mostrar um retrato que fiz dela, minha avó me disse "estou horrível!". Olhei para a imagem que apresentava nada menos do que uma das máscaras de Kazuo Ohno e pensei "sim, para ela esta vulnerabilidade deve ser horrível; de alguém poder ver tais frações que são habilmente ocultas e que aparecem entre dissimulações". A partir deste comentário, percebi que aquela imagem não dizia apenas "ela é assim", dizia também "ela é assim também".

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Autores / Artistas / Obras que tenho estudado

Tarkovsky, Osu, Proust, I Ching, Kenzaburo Oe, Wenders, Roland Barthes


domingo, 18 de abril de 2010






A fábrica onde meu pai trabalhava era considerada, em seu tempo, algo de extraordinário. A tecnologia empregada na desidratação dos sucos de frutas, os armazéns, as câmaras frigoríficas. Devia ser por volta de 1989 e eu, na época, usava uma jaqueta de nylon vermelho, reluzente.
Outra coisa deste tempo que lembro claramente era o Atari. Mal sabíamos, meu irmão e eu, que era através deste aparelho que nossa identidade oriental nos era revelada. Jogávamos durante horas, quietos porém em plena sintonia; e dialogávamos através dos movimentos dos lutadores na tela, das repetições que estimulavam nossos impulsos nervosos e que geravam rounds ora quase idênticos e ora bem diversos.
Neste sábado, ao assistir Tokyo Ga de Wenders me deparei com muitas imagens contíguas a este tempo, do nylon, do neon e de quando o Japão era uma potência em pleno crescimento. Vi a mim e ao meu irmão, nossa prática do videogame (tão parecida com a masturbação) mostrada, em sua origem no Pachinko e no Golfe confinado de Tokyo. Essas práticas de diversão mostradas no documentário, todavia, guardam esta hipnose, esta solidão de coletiva. Os jogadores de Pachinko, os jogadores de golfe, eu e meu irmão com o nosso videogame... todos nós estávamos trabalhando em fábricas, repetindo padrões de movimento, produzindo respostas aos respectivos jogos, e a isto era dado o nome de lazer, prazer, diversão.

segunda-feira, 12 de abril de 2010


Estávamos procurnado um apartamento numa zona afastada; num ponto da periferia da cidade. Encontramos então este prédio, um misto de casa Milà com os simulacros de castelos do litoral de São Paulo. O síndico do lugar nos mostrava os apostento, e dizia que outrora havia uma pensão ali. Os cômodos eram impregnados do cheiro adocicado de maçãs apodrecidas. Entramos então num enorme cômodo onde haviam ainda alguns pensionistas. Eram crianças que pareciam ser oriundas de um tempo remoto, pois não possuiam todas as características estranhas, de pequenos gênios mimados que as crianças costumam ter hoje em dia. Eram pequenos adultos. De repente elas começaram a escalar o prédio, as janelas. Andavam no parapeito e então desciam chaminés, canos de calhas. Todas elas então se acomodaram em fila na entrada do prédio e começaram a simular um trem. Muitas delas conservavam os braços abertos, como se fossem fazer a grande serpente alçar vôo.

sábado, 10 de abril de 2010


Chên: Esta sempre será a nossa referência de praia. A areia cinza, dura, prateada quando molhada pela água.

Kên: ...

Chên (pensando): o solo argento quase lunar. Minhas pegadas que somem lentamente. Não fosse a água seria como a impressão de Armstrong.

Chên: Sim, ao contrário da maioria, para nós o litoral sempre será carregado dessas perturbações.

Uma onda se avoluma diante dos dois irmãos e os engole.