domingo, 18 de abril de 2010






A fábrica onde meu pai trabalhava era considerada, em seu tempo, algo de extraordinário. A tecnologia empregada na desidratação dos sucos de frutas, os armazéns, as câmaras frigoríficas. Devia ser por volta de 1989 e eu, na época, usava uma jaqueta de nylon vermelho, reluzente.
Outra coisa deste tempo que lembro claramente era o Atari. Mal sabíamos, meu irmão e eu, que era através deste aparelho que nossa identidade oriental nos era revelada. Jogávamos durante horas, quietos porém em plena sintonia; e dialogávamos através dos movimentos dos lutadores na tela, das repetições que estimulavam nossos impulsos nervosos e que geravam rounds ora quase idênticos e ora bem diversos.
Neste sábado, ao assistir Tokyo Ga de Wenders me deparei com muitas imagens contíguas a este tempo, do nylon, do neon e de quando o Japão era uma potência em pleno crescimento. Vi a mim e ao meu irmão, nossa prática do videogame (tão parecida com a masturbação) mostrada, em sua origem no Pachinko e no Golfe confinado de Tokyo. Essas práticas de diversão mostradas no documentário, todavia, guardam esta hipnose, esta solidão de coletiva. Os jogadores de Pachinko, os jogadores de golfe, eu e meu irmão com o nosso videogame... todos nós estávamos trabalhando em fábricas, repetindo padrões de movimento, produzindo respostas aos respectivos jogos, e a isto era dado o nome de lazer, prazer, diversão.

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